terça-feira, 28 de agosto de 2012

Texto de Subsidio II Etapa da formação marxista.



Por Paulo Portellada.

O mundo está aí, a todo o momento objetivando-se em sua concretude imperativa. Não nos é possível viver fora desta realidade. Olhar, observar e pensar esta realidade com criticidade e objetividade é a tarefa básica se queremos, com nossa prática, transformarmos o mundo a nossa volta.
Precisamos, portanto, em nossa jornada existencial – maior que nosso agir político – entendermos a relação entre teoria, prática e práxis. Nosso agir cotidiano pode ou não tornar-se, pela reflexão e capacidade de interconectar conhecimentos anteriormente adquiridos, teoria.
Aristóteles, o bom e velho Aristóteles, bem nos ensina no livro Ética para Nicômaco, que nosso agir advêm de hábitos, não refletidos em sua maior parte. Estes hábitos nós os introjetamos pelo processo educativo que se dá nos âmbitos vitais familiares, escolares e sociais. A este processo damos o significativo nome de incorporação – transformar-se em corpo! É assim que o escovar os dentes, que se inicia de forma imperativa, acaba por se tornar uma necessidade corporal decisiva, incorporada e necessária. Ocorre que este processo educativo não se dá normalmente pautado por uma reflexão madura e profunda sobre seus caminhos e passos. Até mesmo nas unidades escolares onde o agir deve ser pautado por um encontro das diversas habilidades, possibilidades e virtudes de seu corpo docente, em suas respectivas disciplinas, a partir de um horizonte reflexivo que é o Projeto Politico Pedagógico (PPP). Normalmente, entretanto, este processo carece, a meu ver, em três dificuldades básicas:
1.      O corpo docente não é selecionado tendo em vista o PPP, para que haja uma coerência coletiva no caminho e na direção para onde devemos caminhar.
2.      As habilidades pessoais, assim como sociais e relacionais, não são devidamente percebidas e, por isso, não são adequadamente exploradas ou incorporadas no processo pedagógico, perdendo-se possibilidades e horizontes, esvaziando-se o agir pedagógico.
3.      O PPP normalmente é o conjunto de frases – chavões, sem qualquer compreensão ou mesmo discussão básica, que se torna um imperativo apenas burocrático. Pior do que isto, ele esconde a incapacidade de olhar atentamente a realidade do aluno concreto que se apresenta a sua frente, com seus dramas e capacidades. Desvelar este mundo concreto – do corpo docente, do corpo administrativo e dos alunos – é apenas o ponto de partida para o trilhar pedagógico que deve apontar para novos horizontes, maiores e mais humanos.

Uma pequena pausa se faz necessária, já que não vamos nos referir aqui ao papel governamental e em suas tarefas inadiáveis, assim como na responsabilidade das famílias no âmbito educacional, já que pensamos no processo pedagógico não apenas na educação formal pública ou privada, mas também em igrejas, ONGs e instituições sociais.
Paremos por um instante. Não siga automaticamente a ler o texto!
1.      Nos nossos processos e dinâmicas pessoais, nos nossos espaços dialógicos e políticos temos ao menos uma ideia das possibilidades humanas envolvidas – inclusive a nossa? O que te faz feliz? O que realmente você gosta de fazer?
2.      Em nossos processos sociais e institucionais temos ou tentamos fazer um PPP que se faça realista e dinâmico, com metas e com revisão permanente?
3.      Formamos uma equipe que acolha a diversidade e a complexidade da vida humana e do seu mundo cultural a dirigir-se, com o apoio mútuo (e não com competição), dentro de um processo estratégico, olhando para o mesmo horizonte?
Falamos de liberdade, de libertação, mas o que isto significa?
Nosso agir se conforma (age com a forma) a realidade capitalista, se nutrindo dos valores desta na busca pelo sucesso, pelo dinheiro, pela estabilidade, pelo status, pelo poder? Somos livres para romper com estas determinações e aceitar suas reais consequências?
A prática pode, portanto, tornar-se teoria, mas esta é sempre, uma teoria interessada, que defende interesses de pessoas e grupos sociais e pessoais.
Teoria pode se confundir com manuais de procedimento ou mesmo um pensamento conceitual, superficial sobre algo. Ledo engano! Teoria é o pensamento sistêmico de uma totalidade, que a percebe organicamente e complexamente. A teoria biológica, portanto, se refere ao conjunto que compreende o funcionamento da estrutura biológica, da vida. A vida da prática, dos hábitos é derivada, portanto, de um olhar sistêmico da vida humana e de seu articular politico e econômico, que lhe dá horizontes e caminhos. Quando agimos sem reflexão apurada estamos, concretamente, a reboque do que os outros pensaram – e seguem a pensar – por nós. E, que, pelo aparato ideológico e midiático, sutil e eficaz, se introjeta, se incorpora em cada um de nós.
Falamos de teoria, falamos de prática, mas há outro termo, mais importante, que é práxis. Práxis é o agir reflexivo, reflexivo que se objetiva num mundo real e que se torna conhecimento amplo e dinâmico (dialético!), que se faz teoria na prática. Onde a prática se faz teoria e a teoria se faz\ prática numa espiral que se humaniza e se radicaliza.
É este o horizonte no qual pretendemos caminhar. Que nossos corpos, mentes, olhares e o coração – numa linguagem teológica que nosso espírito – esteja mergulhado total e amorosamente mergulhado neste caudaloso rio da vida.

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